Nâo me chamen pelo nome
MÍSIA / ANTÓNIO BOTTO
Poema. António Botto
Música. José António Amaral
Quem é que abraça o meu corpo
Na penumbra do meu leito?
Quem é que beija o meu rosto,
Quem é que morde o meu peito?
Quem é que fala da morte
Docemente ao meu ouvido?
- És tu, senhor dos meus olhos
E sempre no meu sentido.
A tudo quanto me pedes
Porque obedeço, não sei:
Quiseste que eu cantasse
Pus-me a cantar e chorei.
Não me peças mais canções
Porque a cantar vou sofrendo;
Sou como as velas do altar
que dão luz e vão morrendo.
Não me chamem pelo nome
que me deram ao nascer;
Sou como a folha caída
que não chegou a viver.
Meus olhos que por alguém
deram lágrimas sem fim,
Já não choram por ninguém
- Basta que chorem por mim.
O que é que a fonte murmura?
O que é que a fonte dirá?
- Ai, amor, se houver ventura,
Não me digas onde está.
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